26 de out. de 2007
São umas 50 pessoas as que, em diferentes micros acompanharão a “travessia Sanz”. De todos esses, só os integrantes de sua banda compartilharão a rotina sobre rodas diretamente com o madrilenho, no mesmo veículo. “A única exigência que faço é que toquem comigo e que, como condição sine qua non, amem a música tanto como eu a amo. Necessito que adorem tocar cada canção como se fosse a última”. Precisamente. Essa sensação de “como se fosse a última” é o que transcende no espanhol uma nova revalorização do agora, adquirida pós stress. Sem apreensões, fala de seu passado avatar psicofísico: “Para mim o stress era coisa de executivos, de brokers, de gente que vive em Manhattan, mas nunca pensei que isso fosse me atingir!”, expõe, “Sem dúvida, a realidade é que todos, em maior ou menor medida, colocamos os problemas do trabalho acima. Todas as pressas, as corridas, vem conosco até nossa casa. Dormimos com ela cada noite, dormimos juntos, até que transformem em parte nossa. Isso, ao final, te passa uma resposta ao físico”.
A receita que Sanz seguiu, fazendo omisso caso médico, foi a de esquecer-se de tudo e de todos. “Fiquei dois meses em um lugar distante, de onde nada pudesse me lembrar o trabalho nem as coisas preocupantes. Fiz uma série de terapias, com exercícios em que te ensinam a manejar teus medos, tuas ansiedades, tuas broncas e tudo que tem te provocado estresse”. “Foi o que eu aprendi nesses dois meses”, segue, “foi tão importante como voltar a caminhar. Aprendi a apreciar as coisas, a não ter esta pressa, essa coisa ligeira de querer ter tudo na vida, e finalmente se te preocupas por ter um televisor cada vez maior no lugar de se chegar a uma janela e olhar a paisagem que está em frente”.
No próximo dia 1 de novembro, a tour El tren de los momentos teria previsto desembarcar no Poliedro de Caracas, Venezuela, para concretizar um show que esgotou em apenas horas em todas as localidades quando estas foram postas à venda, há vários meses. A mesma tarde em que La Opinión realizou a entrevista com Alejandro Sanz, nesse país se dava a conhecer a decisão oficial de cancelar o show do madrilenho. Em princípio, as razões aludiam a uma superposição do dito evento com um ato oficial a realizar-se no mesmo estádio. Não obstante, o que estava por trás evoca sem muitos disfarces o descontentamento do Governo de Hugo Chávez com certas declarações que o músico efetuou na sua última visita a esse país, em 2004, quando expressou sobre o presidente venezuelano “não gosto dele, como também dos demais presidentes de outros países”. Se nota agora preocupado apenas em mencionar o tema “sim, sim”, afirma em seguida. “Estamos seguindo as alternativas disto de minuto a minuto, apenas nos interamos de que havia algum conflito e havia a possibilidade de cancelar o show”, diz. “Só tenho pena porque venderam em tempo record todas as entradas para este show. O que nos disseram até agora é que, ao parecer, decidiram fazer neste mesmo dia um evento governamental no mesmo lugar. Eu não sei se é coincidência ou não”, sorri com um certo pesar, “mas bom, parece que se isso ocorre, não poderemos tocar ali”. Depois dessas palavras o autor de “Corazón Partío” faz um pequeno alto no discurso e seu silêncio delata que, em realidade, sua cabeça está armando as melhores palavras para transmitir o que seu coração sente. Então, depois de um momento, por fim segue: “nestes dois meses, quando parei para me recuperar, aprendi algo fundamental: tudo o que seja musical, fazê-la, atuar ao vivo, compor, tocar com minha banda, tudo isso me importa. Agora todo o demais, que também está em volta da música, pois não me interessa no mais mínimo”. “Durante a minha tour pela Espanha tive a melhor confirmação de que estou certo disso. Eu queria que as pessoas me escutassem, que vissem o que eu faço, sem que minhas questões pessoais se intrometessem nem as afetassem. E efetivamente, só se falou disso, dos shows, de minhas músicas. Isso é o único que me interessa de agora em diante, e para isso seguirei sendo Alejandro Sanz. Para me dar e oferecer a música a quem quiser escutá-la”.
Fonte: Jornal "La Opinión" de Porto Rico.